Natural da vila de Pulador, no interior do Rio Grande do Sul, Pe. Luiz Batistel chegou no mês missionário a Santa Felicidade, para escrever novas páginas da poesia da missão. Com centenas de poemas escritos, não gosta que o chamem de padre-poeta, mas de padre que escreve poesias.
Trazendo na bagagem anos de experiência missionária na Amazônia e na zona portuária de Santos, ele conversou com a Pastoral da Comunicação nos primeiros dias da nova missão.
PASCOM - Padre, fale-nos um pouco sobre o seu lado poeta.
Bom, as poesias sempre surgem em momentos de reflexão. O que vem na cabeça, eu escrevo; e vou transformando em versos. Tempos atrás alguns amigos recolheram algumas folhas esparsas e resolveram colocar em um livro. Uma vez concorri até para a letra de uma música a Nossa Senhora Aparecida, ficando em segundo lugar entre trezentas composições.
PASCOM - Como surgiu a sua vocação sacerdotal?
Pe. Luiz - Quando eu estava na Escola, vinha sempre um pessoal da cidade à procura de vocações, e nessa época um vizinho meu foi para o Seminário e eu quis ir também. Mas a minha ideia era ser Professor, não Padre; não sabia que o Seminário era para formar padres... Então, com o passar do tempo, acabei permanecendo e prosseguindo os estudos. Quando cheguei ao fim da Filosofia, que foi feita em São Paulo, éramos dois do grupo na preparação para os votos perpétuos. Ficamos uma semana em retiro e no final o superior veio nos questionar se professaríamos os votos ou não. Meu colega disse sim. Quando chegou a minha vez, disse não, pois estava com medo de um termo que estava nos votos: “Tu és Sacerdote Eternamente”. Então me perguntei: será que vou ser sacerdote eternamente? Isso me assustava. O Superior me deu uma risada na cara (risos). Então mudei de ideia e fui.
PASCOM - E como foram as primeiras missões como padre?
Pe. Luiz - Quando fui ordenado, estavam abrindo a Transamazônica. Então me propus a ir para esta missão. Os Superiores aceitaram, pois poucos queriam ir para lá. Fui para Itupiranga, para frente de Marabá, no Pará. Ao todo, éramos em três padres durante mais ou menos seis anos. Ao longo da rodovia, fundamos 27 comunidades. Foi um período muito bom, pois convivíamos com as comunidades, passávamos semanas com eles.
PASCOM - Além da Região Norte, o senhor ficou também muito tempo em São Paulo.
Pe. Luiz - Sim, depois de Itupiranga fui para Vicente de Carvalho, em São Paulo. Entre idas e vindas, foi o lugar em que permaneci por mais tempo até hoje. Também já estive em Curitiba, por duas vezes, nas Paróquias de São José do Capão Raso e São Pedro do Umbará. Fiquei também por algum tempo em Astorga, aqui no Paraná. Em 1984 fui para Grajaú, onde fundamos uma Paróquia para os migrantes.
PASCOM - Antes de vir para Santa Felicidade, o senhor estava em Vicente de Carvalho. Como era a sua missão por lá?
Pe. Luiz - Lá nós temos um trabalho mais portuário, por conta da proximidade com o porto de Santos; além de caminhoneiros, pescadores e marinheiros. Nós temos uma Stela Maris, que é uma casa de acolhida para as pessoas que saem dos navios e não têm onde dormir. Isso além do trabalho paroquial, das duas paróquias carlistas que temos lá, que acabam fazendo com que nosso trabalho seja mais pastoral. Temos 17 comunidades, uma paróquia grande em vários termos, principalmente populacional, com 170 mil habitantes.
PASCOM - O senhor foi colega do Padre Cláudio, não é mesmo?
Pe. Luiz - Sim. Porém a nossa história foi sempre a distância, pois a missão foi nos levando para caminhos diferentes. Estudamos juntos, acho que entramos no Seminário no mesmo dia, mas os trabalhos foram nos afastando. Aqui em Santa Felicidade acho que vim uma vez na vida, há muito tempo. A convivência com o Padre Claudio foi mais nos estudos, antes de ele ir para Roma. Depois nos encontrávamos nos retiros e assembleias da Congregação, mas para o trabalho viemos nos encontrar novamente aqui em Santa Felicidade.
PASCOM - Padre, o senhor está há poucos dias em Santa Felicidade. Já celebrou algumas Missas, conversou com os paroquianos... O que achou deste primeiro contato?
Pe. Luiz - Estou começando a conhecer a comunidade. Para falar a verdade, durante toda a minha missão, sempre estive em lugares muito pobres. E Santa Felicidade me pareceu ser, pelo menos à primeira vista, um bairro mais privilegiado socialmente, então estou estranhando um pouco nesse sentido. Na comunidade, o engajamento dos leigos está me surpreendendo: todos estão entrosados, por dentro, sempre presentes. Em outros lugares por onde passei, não percebia isso de maneira tão forte. O povo é muito acolhedor, receptivo.
PASCOM - O que o senhor gostaria de dizer a esta comunidade que está conhecendo?
Pe. Luiz - Antes de mais nada, quero agradecer pela acolhida. Se vocês continuarem assim, vou me animar cada vez mais. Percebo aqui uma paróquia missionária, da Igreja em saída, que não sai só geograficamente, mas também sai de si mesma para olhar para o próximo.